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Depois de mais de um ano de reabilitação, Samara volta às quadras cheia de gratidão

A lesão é a pior parte da carreira de um atleta e todo mundo sabe disso. Enfrentar a cirurgia e as dores é ruim, mas, muito vezes, nem é o pior. Lidar com os pensamentos, por onde passam tantas dúvidas e incertezas, é o mais cruel. Não saber se vai conseguir voltar a jogar no mesmo nível de antes ou mesmo se vai conseguir voltar em algum momento é algo que o atleta precisa superar. E, para isso, é necessário ter ajuda. Sorte e merecimento de Samara, que teve isso de sobra.

A ponteira passou por uma reabilitação de um ano e três meses após uma cirurgia de osteotomia e a gente contou parte disso em dezembro do ano passado: https://www.nanossarede.com.br/2021/12/20/samara-atravessa-momento-de-superacao-depois-de-passar-por-cirurgia-delicada/. Praticamente um ano depois, a alegria voltou a ser completa para Samara, que, na última sexta-feira (18.11) fez sua primeira partida completa, começou como titular e foi a maior pontuadora do Radomka Radom, seu time na Polônia.

Estar de volta é uma emoção que Samara por muitas vezes não sabia se voltaria a sentir. Mas, após um ano e três meses de tratamento, sendo um ano e um mês dentro do Sportville, o centro de treinamento da família Guimarães em Barueri (SP), a jogadora é só gratidão.

“Não tenho palavras para agradecer tudo o que o Zé Roberto fez por mim, a família dele, e tudo sem esperar nada em troca. O Zé era um dos que mais acreditava que eu ia voltar a jogar. Foi tudo inesquecível. Foi muita gente importante e por quem eu tenho uma gratidão enorme. Eu queria muito ter um jeito de agradecer citando os nomes de todos eles”, comentou a jogadora.

Não seja por isso. Seu desejo vai ser realizado agora mesmo, Samara. Agradecimentos mais do que merecidos aos fisioterapeutas Fernandinho e Daniel Kan; aos preparadores físicos Caique Botelho, José Elias Proença e Eduardo Mamola; aos treinadores Fábio Simplício, Serginho, Hernane, Alexandre, Wagão e José Roberto Guimarães, e aos médicos Rodrigo Vaz e Sérgio Campolina.

Samara em quadra na sexta passada pelo seu time na Polônia (Foto: Lukasz Wójcik)

Aliviada, feliz e em plenas condições dentro de quadra, Samara conta que nem sempre foi assim. Como dito antes, as dúvidas fazem parte do processo e era para essas pessoas que a jogadora corria em cada um desses momentos.

“Como o período de reabilitação foi muito longo, tive muito tempo para ter inúmeros altos e baixos. Era impressionante. Uma semana eu estava muito animada por ter conseguido fazer algo, ter tido um avanço, e na outra parecia estar tudo ruim e que nada ia dar certo. Foi um turbilhão de emoções. É inexplicável”, contou Samara.

Relação especial com Fernandinho

Uma das principais pessoas envolvidas neste processo é o fisioterapeuta Fernando Fernandes. Fernandinho, como é conhecido, fisio da seleção feminina e do Barueri Volleyball Club, é parceiro antigo e pessoa absolutamente fundamental nessa história.

“O Fê falava muito isso para mim. Toda vez que tinha um dia muito ruim ou quando eu estava muito desanimada, ele fala que já já aquilo tudo que eu estava vivendo ia ficar só na lembrança. Ele pedia que eu me dedicasse ao máximo. Quando batia a incerteza, o que me dava força eram as pessoas que eu tinha do meu lado. Era sentir que todo mundo que estava ali, estava trabalhando em prol de um objetivo, que era me colocar para voltar a jogar”, lembrou Samara.

Samara e Fernandinho

A ponteira se emociona ao contar sobre a rede de apoio que contou e que foi essencial para o momento atual. “Eu tinha 15 profissionais e todos se mobilizavam e colocavam toda a energia para que eu voltasse a jogar. Então, quando eu tinha tristeza ou incerteza, a primeira coisa que eu fazia era ir para a fisio. Todos os dias eu fui e era lá que eu tinha a minha injeção de ânimo. Era olhar para aquelas pessoas, todas as ações que elas faziam por mim, que eu me animava”, contou Samara.

Toda a positividade recebida dos profissionais e das atletas que treinavam no Sportville durante todo o período em que a jogadora esteve por lá foi importante para esse recomeço.

“Também tive muita força das atletas, das minhas amigas, das meninas que eram da base que estavam me vendo ali todos os dias primeiro de muleta, depois sem muleta, depois mancando, depois andando normal. Realmente o que me dava força era o ambiente, um grupo de pessoas muito grande colocando muita energia por mim, para mim, em prol do meu benefício”, disse.

Desistir não era uma opção

Samara chegou a pensar em desistir, mas como fazer isso em meio a tanto carinho? “Não tinha como eu parar. Quando eu pensava em desistir, eu lembrava que o Zezinho ia lá só para trabalhar comigo, que o treinador da base ia chegar mais cedo só para me dar treino sozinho, que as meninas da base, meninas de 16 anos, chegavam mais cedo para me ajudar no treinamento”, relembrou.

Não, a opção desistir não podia ser considerada mesmo. Samara conta, ainda, que, a partir do momento em que decidiu passar pela delicada cirurgia, ela tinha que seguir adiante até o momento em que vive hoje, sem pestanejar.

“Uma das coisas mais importantes foi o compromisso que eu tive comigo mesma, que tive com os outros e o compromisso dos outros comigo. Foi uma troca muito legal. Quando eu decidi fazer a cirurgia, por escolha minha, naquele momento eu assinei um tratado comigo e nada poderia quebrar aquilo”, garantiu Samara.

Parceria e aprendizado

E Fernandinho mais uma vez é presença fundamental nesse processo. “No começo da reabilitação, eu tinha que fazer a fisio nos sete dias da semana. Fiquei durante meses. O Fê viajava com o time e quando ele voltava, seria folga e, mesmo assim, ele ia para trabalhar só comigo. Eu falava que ele não precisava ir porque eu conseguia fazer. Era pouquinha coisa. Mas, ao mesmo tempo, era perigoso fazer sozinha. E ele dizia que havia um compromisso entre nós e levei esse aprendizado para o resto da minha reabilitação”, contou Samara, emocionada.

É porque essa história é de emoção mesmo. De superação, amizade, dedicação, parceria e muita determinação. Samara sofreu, claro, mas aprendeu. A ponteira teve a sensibilidade de perceber que aquilo tudo não podia passar em vão pela sua vida.  

“Eu tive uma transformação completa. Como atleta e como ser humano. Tudo isso me trouxe muito aprendizado. Muitas coisas que eu nunca tinha parado para pensar, observar, para melhorar, aceitar e nesse tempo passei a acreditar ainda mais que nada acontece por acaso. A cada episódio, a cada situação, era um aprendizado e o maior deles é que todos nós somos dependentes uns dos outros. Depois de oito anos fora do Brasil, tive tempo em família, com amigos”, concluiu Samara.

É isso. O aprendizado é para todos: viver um dia de cada vez e entender que os ruins não duram para sempre. Nem os bons. Mais importante é saber disso e buscar o crescimento a cada dia.